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2. Myringite granular

GM é uma das condições comumente encontradas em departamentos ambulatoriais. É caracterizada por otorréia crônica indolor na presença de áreas granulares sobre a MT (El-Seifi e Fouad, 2000; Blevins e Karmody, 2001), como descrito na Fig. 1. Os outros sinônimos de GM incluem miringite crônica, miringite granulosa, miringite granulomatosa, miringite granulante e otite externa granular (Bansal, 2017). A doença do ouvido médio deve ser excluída antes do diagnóstico do GM, e a duração dos sintomas deve ser superior a um mês (Blevins e Karmody, 2001). Embora a etiologia exata não seja conhecida, o trauma na superfície da MT devido à limpeza repetida do ouvido ou cirurgia anterior parece ser o precursor da etiologia do GM. A infecção localizada das camadas mais profundas da MT após a desepitelização traumática da superfície externa é a causa provável para a formação de granulação no GM. Em todos aqueles estudos que cultivaram a descarga de GM, tanto Staphylococcus aureus sensível à meticilina e resistente quanto Pseudomonas aeruginosa são os dois organismos comumente isolados (El-Seifi e Fouad, 2000; Levi et al., 2013; Kim, 2011). Uma história da miringotomia e miringoplastia anteriores foi relatada em quase 80% das crianças com GM em um estudo (Levi et al., 2013). Contudo, esta doença é rara em crianças (Kim, 2011).

Fotografia clínica da miringite granular mostrando deposições granulares difusas (seta preta) na parte média da membrana timpânica posterior (A e P – representando anterior e posterior respectivamente).

GM geralmente afeta as mulheres (Kim, 2011). Clinicamente, os indivíduos afetados teriam episódios recorrentes de otorréia indolor, plenitude auditiva ou bloqueio auditivo com períodos intermédios normais (Blevins e Karmody, 2001). O exame do ouvido por otoscopia, otoendoscopia ou microscopia revelaria a presença de tecido de granulação sobre a MT, geralmente no quadrante posterior-superior (El-Seifi e Fouad, 2000). Raramente pode haver perfuração associada à MT, que é frequentemente transitória (Blevins e Karmody, 2001) e cicatrizaria espontaneamente (Wolf et al., 2006). Muitos autores relataram perda auditiva condutiva em GM (Blevins e Karmody, 2001; Levi et al., 2013; Fechner et al., 2002). Em quase 20% dos pacientes, o GM pode afetar ambos os ouvidos (Wolf et al., 2006). O exame histopatológico destas lesões granulares mostrou tecido de granulação infiltrado por reação inflamatória crônica não-específica e aguda (Kim, 2011; Wolf et al., 2006). Se não for tratado adequadamente, o GM de longa duração pode levar à estenose inflamatória ou atresia do canal auditivo externo (Blevins e Karmody, 2001; Lavy e Fagan, 2000).

Várias classificações de GM têm sido descritas na literatura. De acordo com El Seifi e Fouad (2000), o GM tem três formas de apresentação, a focal, a difusa e a segmentar, dependendo da aparência no exame auditivo. Wolf et al. (2006) classificaram o GM em quatro graus com base na extensão da doença, em que o grau I é desepitelização focal, o grau II é granulações polipoides focais, o grau III é formação polipoide difusa sobre toda a MT e o grau IV é quando as granulações também envolvem a parede EAC. Kim (2011) em sua classificação de GM integra tanto a localização quanto a aparência. Ele categoriza amplamente o GM como marginal ou não marginal, dependendo do envolvimento da margem da MT pelas lesões granulares. Posteriormente, dependendo da aparência predominante da lesão, essas lesões são subclassificadas como polipoidais ou ulcerativas. O tipo ulcerativo marginal é a variedade mais comum vista na série relatada por ele. No entanto, esta classificação não tem sido amplamente utilizada, provavelmente devido às múltiplas subcategorias envolvidas na mesma, por oposição à classificação do lobo, que é simples e, no entanto, prática para os cuidados clínicos, bem como para as comunicações de pesquisa. Recentemente, uma classificação etiológica foi proposta por Bansal (2017) que divide o GM em primário e secundário. Entretanto, pela definição de GM, muitas das condições incluídas sob o GM secundário nesta classificação não devem ser consideradas como GM, exceto, talvez, pelas causas traumáticas. Na verdade, a ausência de infecção do ouvido médio é um dos critérios para o diagnóstico de GM (El-Seifi e Fouad, 2000; Blevins e Karmody, 2001). Além disso, embora algumas das patologias não infecciosas como colesteatoma congênito, efusão do ouvido médio ou inserção de grommet estejam associadas ao GM (Kim, 2011), o papel etiológico dessas condições no GM ainda não está claro.

O diagnóstico do GM é geralmente clínico. Sempre que houver dúvida, uma tomografia computadorizada do osso temporal pode ser feita para descartar os meios otites subjacentes com granulações. Alguns autores têm discutido a utilidade da tomografia de coerência óptica baseada em microscópio na detecção das alterações microanatômicas da membrana timpânica em GM (Guder et al., 2015). Recentemente, um otoscópio manual integrado à tomografia de coerência óptica também demonstrou ser uma ferramenta clinicamente útil para detectar as alterações na membrana timpânica (Park et al., 2018). Entretanto, o uso da tomografia de coerência óptica na prática clínica de rotina para o diagnóstico do GM pode não ser rentável. Tradicionalmente, o tratamento tópico com gotas auriculares antibióticos tem sido o tratamento de escolha por muitos anos (Blevins e Karmody, 2001). Uma solução diluída de vinagre (Jung et al., 2002), peróxido de hidrogênio diluído (Van der Meer, 2010), 5 fluorouracil (Atef et al., 2010), solução castellani (Kim, 2011) são alguns dos agentes tópicos usados para o GM com taxas variáveis de sucesso. O vinagre, embora útil, pode causar dor e tonturas irritantes no canal (Jung et al., 2002). O peróxido de hidrogênio diluído e o cautério de nitrato de prata estão associados ao aumento do risco de perfuração iatrogênica da MT (Van der Meer, 2010). A solução Castellani compreende 4,5 g de fenol, 10 g de resorcinol, 0,3 g de fucsina básica, 5 ml de acetona, 9,4 ml de etanol a 80%, e 85,6 ml de água destilada (Kim, 2011). Os componentes desta solução têm propriedades antifúngicas (carbol-fucsina), antibacterianas (etanol e resorcinol), e ácidas (acetona). Também promove a reepitelização (Kim, 2011) e não tem efeito ototóxico (Gültekin et al., 2010). No entanto, a taxa de recorrência é alta com tratamento conservador usando agentes tópicos (El-Seifi e Fouad, 2000). O uso de antibióticos e até mesmo gotas de esteróides estão geralmente associados à recorrência dos sintomas, e para os sintomas recorrentes de GM, o vinagre diluído parece produzir resultados favoráveis (Neilson e Hussain, 2008).

Ablação a laser de dióxido de carbono é um método de escritório eficaz e minimamente invasivo que pode ser útil em casos de GM refratários (Fechner et al., 2002; Jang et al., 2006; Cheng e Shiao, 2008). Uma ou duas exposições ao laser de dióxido de carbono com tamanho de 0,5-1 mm e uma potência de 5-10 Watts em modo contínuo tem se mostrado ideal para este propósito, com baixas taxas de recorrência e baixa incidência de complicações (Jang et al., 2006). Mas, a duração do seguimento destes estudos é relativamente curta. É necessário re-iterar que a terapia a laser raramente pode levar à perfuração da MT (Fechner et al., 2002).

Tratamento cirúrgico com excisão de parte envolvida da MT e reconstrução usando miringoplastia de overlay ou underlay se mostra eficaz em casos com tratamento conservador falhado (El-Seifi e Fouad, 2000). A taxa de recorrência relatada de GM com essa abordagem é de cerca de 1% (El-Seifi e Fouad, 2000). A avulsão epitelial timpânica combinada e a miringoplastia overlay são especialmente adequadas para a classificação de Wolf tipo III e IV, e leva cerca de três meses para que a MT cicatrize completamente e o intervalo aéreo-ósseo volte ao estágio pré-operatório (Zhang et al., 2010). A canaloplastia pode corrigir razoavelmente a perda auditiva condutiva devido à estenose ou atresia do canal auditivo externo em um caso antigo de GM (Lavy e Fagan, 2000).

Uma recente revisão sistemática destacou a inexistência de qualquer ensaio controlado aleatorizado em GM (Chung et al., 2018). Ao comparar todas as opções de tratamento, a cirurgia parece ser a opção de tratamento mais eficaz (Chung et al., 2018). No entanto, os agentes tópicos formam uma linha essencial de terapia mesmo agora, tendo sido utilizados como coadjuvantes tanto da terapia a laser como da cirurgia.