Um Caso Curioso de Síndrome do Sotaque Estrangeiro

Karen Butler poderia recuperar o seu sotaque americano com terapia intensiva da fala, mas ela gosta do seu novo sotaque. Jane Greenhalgh/NPR hide caption

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Karen Butler poderia recuperar o sotaque americano com terapia intensiva de fala, mas ela gosta do seu novo sotaque.

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Quando Karen Butler foi para cirurgia dentária, ela saiu com mais do que gengivas dormentes: Ela também pegou num sotaque estrangeiro pronunciado. Não foi um acaso, ou uma piada – ela desenvolveu uma condição rara chamada síndrome do sotaque estranho que normalmente é causada por uma lesão na parte do cérebro que controla a fala.

Butler nasceu em Bloomington, Illinois, e mudou-se para o Oregon quando ela era bebê. Ela nunca viajou para a Europa ou viveu num país estrangeiro – ela é americana, diz ela, “nascida e criada”.

Mas ela já não soa como uma. Seu sotaque agora é um hodgepodge de inglês, irlandês e talvez um pouco de outros sotaques europeus.

O problema começou há cerca de um ano e meio, quando ela foi colocada sob anestesia enquanto o dentista retirava vários dentes.

“Eu só fui dormir e acordei e minha boca estava toda dorida e inchada, e eu falei engraçado. E o dentista disse: ‘Você vai falar normalmente quando o inchaço diminuir'”, disse Butler.

O inchaço logo desapareceu, mas o sotaque estrangeiro não. O neurologista Ted Lowenkopf, director do Providence Stroke Center, em Portland, diagnosticou-lhe uma síndrome do sotaque estranho, uma doença neurológica rara.

“Normalmente é o resultado de uma lesão cerebral”, diz Lowenkopf, “que pode provir de acidente vascular cerebral, traumatismo craniano ou outras doenças que podem danificar o tecido cerebral, como a esclerose múltipla”.

Existiram apenas cerca de 100 casos conhecidos da síndrome desde que foi relatada pela primeira vez na década de 1940. O caso mais famoso foi uma mulher norueguesa que foi atingida por estilhaços na Segunda Guerra Mundial; ela desenvolveu um sotaque alemão e foi ostracizada como resultado.

Outros casos incluem uma mulher britânica de Devon que desenvolveu um sotaque chinês após uma enxaqueca, e outra britânica que teve um AVC e agora soa francês.

Lowenkopf diz que o FAS afeta apenas uma pequena área da fala – apenas o padrão e entonação. Acidentes vasculares cerebrais e traumas cerebrais geralmente causam grandes danos ao cérebro e deixam as pessoas com problemas de fala muito maiores do que apenas uma mudança no sotaque.

Butler pode ter sofrido um pequeno acidente vascular cerebral enquanto estava sob anestesia, mas ela não terá certeza se não fizer um exame cerebral. (Ela diz que sua seguradora não vai pagar por um.) Lowenkopf diz que comparar um exame antigo que Butler recebeu anos atrás com um novo pode lançar alguma luz sobre o que aconteceu.

Entretanto, é possível que Butler possa recuperar seu sotaque americano através de terapia intensiva da fala. Mas ao contrário de outras pessoas com SAF que se deprimiram com a mudança de sotaque, Butler gosta muito do seu novo sotaque. Ela diz que isso a tornou mais extrovertida e é um bom começo de conversa.